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Freguesia de Almancil detinha um elevado potencial

Almancil Almancil parece recolher o seu topónimo do termo árabe "mansil", casa grande, mansão. Segundo a tradição teria existido neste local uma hospedaria, o que não contradiz a lógica histórica. Na verdade, a povoação localiza-se no que se convencionou apelidar de "corredor de Sevilha/Silves"que era a estrada que ligava aquelas cidades.

No último período do domínio muçulmano o Algarve e a Andaluzia faziam parte do próspero reino de Niebla e era intensa a circulação entre as duas capitais, nela transitavam mercadores, intelectuais e diversos forasteiros, que pernoitavam nas estalagens localizadas à beira dos caminhos. A formação da Freguesia de Almancil é, em termos históricos, recente.

Resultou da desanexação de parte da Freguesia de S. Clemente e da anexação da de S. João da Venda que de acordo com alguns historiadores perdeu, aquando da reforma administrativa, a sua categoria de paróquia, cuja sede era a Igreja de S. João da Venda a favor de S. Lourenço de Almancil.

Em 29 de Setembro de 1836 a Rainha (D. Maria II) incumbira uma comissão constituída por Marino Miguel Franzini, José da Silva Passos e José Joaquim Leal de elaborar o "Projecto de Divisão Administrativa do Território do Reino de Portugal" com o objectivo de aglutinar o mais possível os lugares o que ocasionou a supressão de 465 concelhos.

A recém formada Freguesia de Almancil confrontava a norte com a Freguesia de S. Clemente, a poente com a ribeira do Cadaval, a sul com o Oceano Atlântico e a nascente com as freguesias de S. Bárbara de Nexe e Conceição de Faro (ambas do concelho de Faro).

Os seus limites foram criteriosamente estabelecidos e colocados marcos ao longo do seu perímetro, sobretudo na confluência com o concelho de Faro, que sempre cobiçou as terras de Loulé. Na Freguesia ora formada ficaram englobados os seguintes sítios e lugares: Sítio da Igreja, Esteval, Caliços, Além, Casas e Nave, Barro de S. João, Outeiro, Arneiro, Mata Lobos, Vale da Venda, Torre, Ludo e Muro. O Sítio de Almancil compreende: Barros, Casas, Areias, Chão Branco, Descabeçados, Cerro e Vale Verde. Sob o ponto de vista económico, a jovem Freguesia de Almancil detinha um elevado potencial.

A sua situação geográfica era propícia ao desenvolvimento comercial aliada a uma agricultura rica. Na verdade, Almancil espraia-se por bons terrenos agrícolas onde vicejam pomares diversos. Produz, além de frutos tradicionais: figo, amêndoa, alfarroba, citrinos, assim como a apreciada uva donde se extraía um precioso néctar: o vinho das areias.

Também não podemos esquecer as cobiçadas Quinta do Ludo, Muro, Fomes e Descabeçados, no Sítio de Farrobilhas e as hortas onde se produzem as famosas primícias do Algarve. Antes do processo de assoreamento que se fez sentir a partir dos finais do século XVI e que muito prejudicou o Sotavento Algarvio, a Ribeira de S. Lourenço ou de Almancil era navegável até ao Sítio da Igreja, o que facilitava o transporte

dos produtos em direcção ao Porto de Farrobilhas e imprimia à região um grande dinamismo. Por este porto se escoavam os produtos não só do Concelho de Loulé como os de Faro - aqui se verificavam frequentes escaramuças entre farenses e louletanos. Também foi em frente deste porto que se desenrolou no reinado de D. Afonso IV a célebre batalha naval entre Portugueses e Castelhanos e que resultou em grande destruição para ambas as partes devido a um forte temporal que "de repente se levantou".

A pesca era também uma actividade económica muito rentável. D. Afonso V doou a dízima do pescado a Nuno Barreto (Morgado de Quarteira) e seus descendentes: "doassem da dízima velha e nova do pescado do porto e rio de Farrobilhas e dos ditos reais do dito porto". O General João de Almeida refere que o porto dispunha de um pequeno castelo destinado à sua defesa o qual tinha uma torre que servia de atalaia.

Em 1565 o porto recebe a visita dos Mestres de Santiago, que inspeccionaram a Ermida de Nossa Senhora de Farrobilhas e referem-se também a uma torre grande de três pisos e com janelas de "onde vigiam os mouros".

A 23 de Julho de 1596 piratas Ingleses atacam o porto, desembarcam e saqueiam diversas povoações, como Faro, onde, segundo a tradição, incendeiam a cidade e roubam a biblioteca. Porém, em S. Brás de Alportel os piratas foram corridos à "cacetada". Costuma-se atribuir a decadência e desaparecimento de Farrobilhas ao ataque dos piratas, mas pensamos que se deve ao progressivo assoreamento desta zona costeira, à semelhança do que aconteceu com Tavira. O Rio Gilão assoreou e o porto de Tavira ficou inoperante, o que forçou o Marquês de Pombal a encontrar outra alternativa que foi a construção do porto de Vila Real de Santo António.